A volta da beleza natural na era da harmonização facial

É fato que a busca por uma aparência melhor (ou supostamente melhor) cresceu
nos últimos anos. E a popularização da harmonização facial confirma essa
impressão. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o número de
procedimentos do tipo saltou de 72 mil ao ano em 2014 para 256 mil em 2019.

O movimento é totalmente compreensível. A autoestima é muito importante para a
vida de qualquer pessoa, tendo impactos na inclusão social e nas relações
profissionais e pessoais.

Porém, é importante levantar dois pontos nessa discussão. Em primeiro lugar,
qualquer intervenção estética deve ter como objetivo realçar a beleza natural.
Rostos simétricos não são, necessariamente, os mais belos.

Do mesmo modo, o maxilar proeminente de uma pessoa não fica necessariamente
perfeito na outra. Lembrando que modas são passageiras, e os efeitos de
intervenções podem ser, muitas vezes, duradouros.

A segunda questão é que intervenções invasivas como preenchimentos faciais,
bichectomias e outros, devem ser feitas por dermatologistas. A Sociedade Brasileira
de Dermatologia discorda da decisão que autoriza os dentistas a realizarem tais
práticas, por estarem fora do conhecimento adquirido na Odontologia.

Riscos da harmonização facial

Como em qualquer procedimento invasivo, é preciso muito cuidado e treino, além de
um conhecimento profundo sobre as camadas da pele, pois várias técnicas
manipulam camadas profundas, que se aproximam do osso.

Por outro lado, a banalização pode colocar em risco a aparência e a saúde da
pessoa. Pode haver reações adversas a substâncias, cicatrizes e sequelas mais
graves por má-aplicação.

Além disso, se houver qualquer intercorrência, o médico é o profissional que pode
agir para minimizar qualquer possível complicação.

O resgate da beleza natural

Apesar do boom de interesse, inspirado em grande parte pelas celebridades, é
nítido que a busca por um rosto padrão está perdendo fôlego. A beleza, é bom lembrar, tem aspectos irracionais, que misturam características individuais positivas
e negativas.

E há um aspecto psicológico nisso: mudar demais, removendo a personalidade de
uma face, pode trazer problemas para a saúde mental. É possível, sim, realçar
características que incomodam e destacar as que agradam, mas isso deve ser feito
sempre da maneira mais personalizada possível.